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A Cultura da Virtualidade

  • Stephanie Santos
  • 17 de mar. de 2015
  • 5 min de leitura

Resenha critica do Livro A Sociedade em Rede de Manuel Castells.

A Cultura da Virtualidade

A tensão gerada entre a comunicação alfabética e a comunicação sensorial determinou a frustração dos intelectuais por compreender que a televisão influência diretamente o pensamento crítico social da comunicação de massa. Mas com as transformações tecnológicas que aconteceram na história, foi-se possível imaginar um sistema que una as modalidades orais, escritas e audiovisuais da comunicação humana.

Manuel Castells cita em seu livro, um trecho da fala de Postman que diz: “A comunicação, decididamente, molda a cultura porque ”nós não vemos... a realidade ... como ela é, mas como são nossas linguagens. E nossas linguagens são nossos meios de comunicação. Nossos meios de comunicação são nossas metáforas. Nossas metáforas criam o conteúdo de nossa cultura”, ou seja, há evidências de que um novo sistema interativo abranja interesses sociais e governamentais dando início a uma nova cultura, a cultura da virtualidade.

A difusão da televisão fez com que os outros meios de comunicação como rádio, cinema, jornais, livros ganhassem uma nova perspectiva. O livro, por exemplo, continuou sendo livro, embora existisse o desejo inconsciente de que muitos deles se tornassem Best-sellers ou roteiros de TV. Ela tornou-se a presença quase constante, combinada com o desempenho de tarefas domésticas, refeições familiares, interação social, não necessitando apenas de uma atividade exclusiva.

A causa com que as pessoas se apropriaram rapidamente da televisão, segundo o autor, são as condições da vida em casa logo após dias longos de trabalho, e a falta de outro entretenimento pessoal/cultural. As pessoas são atraídas para o caminho de menor resistência (W. Russel Neuman). E o poder da televisão é armar o palco para os processos que se pretendem comunicar a sociedade em geral, como um feedback, a mídia é a expressão de nossa cultura, e nossa cultura funciona por intermédios dos materiais propiciados pela mídia. A mesma, afeta nosso consciente e comportamento, assim como as experiências reais afetam nosso sonho, fornecendo matéria prima para nosso cérebro e modelando a linguagem societal.

Com o desenvolvimento dos meios de comunicação como o rádio, walkmans e videocassetes, e a explosão da criação de vários programas de TV, já não havia apenas um tipo de informação, os espectadores tinham a oportunidade de escolher suas mensagens, intensificando o relacionamento individual entre o emissor e o receptor. As características das mensagens moldavam as características do meio, a mensagem é o meio, tornando- a cada vez mais separada por valores, ideologias, gostos e estilos de vida.

Baseado nessas experiências ocorridas pelo mundo, o governo Francês criou um dispositivo para conduzir a França à sociedade de informação: o MINITEL. Constituiu-se de um sistema que liga centros de servidores através de simples terminais, oferecendo serviços como lista telefônica, previsões do tempo, informações e reservas de transportes, compra antecipada para eventos culturais e de entretenimento, e posteriormente introduziu as linhas de bate papo.

Mesmo com tamanha evolução, o sistema se limitava a necessidade da população francesa, tendo pouca capacidade de comunicação em relação aos outros meios existentes. A solução adotada pelo governo foi implantar a opção paga que podia se ligar a Internet, e mesmo sendo considerado um “terminal burro”, foi à primeira forma de interação entre máquina e homem.

No principio, a Internet tinha funções restritas aos militares, mas posteriormente introduziu-se em pesquisas cientificas, universidades e hoje existem milhares de redes no mundo inteiro cobrindo toda comunicação humana, política, religiosa e de pesquisa. A internet alcançou um índice de penetração mais veloz do que qualquer outro meio de comunicação. Enquanto a televisão se difundiu por cerca de 15 anos, a Internet o fez em apenas 3 anos após a criação da teia mundial.

E com a necessidade de unir os interesses dos participantes, formou-se a World Wibe Web – WWW (Rede de Alcance Mundial), onde empresas, associações e pessoas físicas criam seus próprios sítios (sites), facilitando a interação de forma expressiva no que se tornou uma Teia de Alcance Mundial para a comunicação individualizada.

Castells analisa o impacto que a internet pode trazer a nossa cultura, mesmo que no início ela tenha se popularizado somente entre países industrializados, pessoas com diplomas universitários, etc., a forma com que se expandiu possibilitou diversas formas de uso, tanto para relações com o trabalho como para relações entre pessoas que utilizam a mesma para facilitar a comunicação.

De fato a comunicação on-line incentiva discussões desinibidas, permitindo assim a sinceridade. Porém há um estreito caminho que pode finalizar esta aproximação, resumindo-se somente a um clique. As comunidades e realizações virtuais são baseadas em laços fracos, não deixando de ser reais, mas não seguem o modelo de comunicação e interação das comunidades físicas.

Em decorrer das demandas exigidas pelo desenvolvimento das tecnologias, os países começaram a buscar meios e alternativas que unissem a multimídia com os demais meios de comunicação. Assim, a conexão entre os países, os interesses das empresas de comunicação de massa, o gosto popular e os recursos deram forma ao futuro da comunicação.

No geral, a Europa, Estados Unidos e Ásia, adaptaram certas características a multimídia: Diferenciação social e cultural muito difundida, levando aos espectadores a opção de estabelecer os seus interesses de interatividade; Crescente estratificação social entre os usuários, uma cultura da mídia de massa personalizada com uma rede de comunicação interativa restrita a comunidades auto-selecionadas; A interação de todas as mensagens em um único meio, diferentes modos de comunicação tendem a trocar códigos entre si, permitindo ao usuário à escolha de várias mensagens no mesmo modo de comunicação, com facilidade de mudança de uma para outra; e Expressões culturais em toda a sua diversidade, todas as expressões culturais, da pior à melhor, da elite a popular, vêm juntas nesse universo digital.

O novo sistema de comunicação transforma radicalmente o espaço e o tempo. Localidades ficam despojadas de seu sentido cultural, histórico e geográfico e reintegram - se em redes funcionais ou em colagens de imagens. O tempo é apagado, já que passado, presente e futuro podem ser programados para interagir entre si na mesma mensagem.

Conforme o dicionário, “virtual é o que existe na prática, embora não estrita ou nominalmente, e real é o que existe de fato”. A realidade, como é vivida, sempre foi virtual porque é percebida por intermédio de símbolos formadores da prática, ou seja, a cultura da virtualidade real é aonde o faz-de-conta vai se tornando realidade.

Hoje, a velocidade com que a comunicação e a informação se difundiram através da internet, expõe a sociedade a se adaptar aos avanços tecnológicos e impactos que ela causa entre as relações humanas. O resultado desta nova estrutura que envolve o mundo virtual é o que conhecemos hoje como cibercultura, e não estar interligado a isto se associa a formas de exclusão social e econômica. Porém a nossa capacidade de se adaptar limita-se a possibilidades inesgotáveis, e acompanhar o desenvolvimento cientifico acontece de forma despercebida, assim como vemos a rápida apropriação da televisão e da internet pelas pessoas, e consequentemente das novas tecnológicas em que a mídia ira se estruturar.

CASTELLS, Manuel. A cultura da virtualidade real: a integração da comunicação eletrônica, o fim da audiência de massa, e o surgimento de redes interativas, 8º edição. In: ______. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. Cap. 5, p. 413-462. Tradução: Venancio Majer, Roneide.


 
 
 

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